sábado, 10 de março de 2012

A caixa

Como posso acreditar em você, se nem mesmo acreditas em ti?
Fui lá ao mais fundo do meu ser e tirei tudo o que guardei a vida inteira. Meus sentimentos. Os tirei de lá, pois eram o que de mais sincero existia em mim. Entreguei-te dentre de uma caixa, feito um presente. Talvez o fosse mesmo. Dei para guarda-lo e usá-lo da forma que mais lhe agradar. Você o recebeu, segurou com todo cuidado. Por um instante hesitou em devolver-me. Mas o agarrou mais forte, observou, e tomou para si. Por algumas vezes olhou por uma pequena fresta, e ali conseguia perceber um feixe de luz, que por horas te fazia pensar e questionar. Um feixe, era só isso que se permitia ver.
Será que não conseguia enxergar mais do que aquele filete? Seria medo? Medo de que?
Por dias ficou olhando para aquela caixa. Cada dia que se passava uma angustia maior crescia dentro de ti. O que fazer com aquela, pequena, singela e tão amedrontadora caixa?
“Por que arriscar, se me sinto forte e seguro aqui?”
Mais alguns dias se passaram e então a decisão. Devolver-me foi seu passo trêmulo. Chegou, olhou em meus olhos, em minhas mãos colocou a caixa e sem muito hesitar foi embora.
Recebi. Afinal, o que mais poderia eu fazer? De dentro dela retirei tudo o que com sinceridade havia lhe dado.
Era mais. Muito mais. Eu conseguia perceber de tudo. Amor, raiva, amizade, sinceridade, angustia, solidão, sensatez, orgulho, felicidade. Mas nada disso estava ali antes com tamanha proporção. Por apenas aquele feixe a caixinha foi alimentada. Era inacreditável como tudo havia mudado, como a percepção da realidade agora era outra.
Uma visão distorcida? Talvez, quem sabe. Gostaria de saber. Apenas se me fosse permitido.
O que fazer com tudo aquilo? Eu não sabia. Por instinto devolvi tudo para caixa. Guardei como todo cuidado. Seria minha ultima chance em poder perceber todas aquelas maravilhas? Antes mesmo de perder qualquer pedacinho que fosse, passei uma fita e dei um laço. Coloquei-a onde eu pudesse olhar a todo instante. Vigiar.
Tudo que nesse momento me resta, é zelar por sua intensidade.